terça-feira, 6 de julho de 2021

 A VOLTA AO CAVALETE


       Depois de uma parada longa no estúdio, resolvi empurrar a porta outra vez. Já muito cedo, no convívio artístico como tradição de família, pertencendo à linhagem genealógica de Oscar Pereira da Silva e de Francisco Aquarone, por parte de meus avós paternos, o vírus chegou a mim. Meu pai tinha grande talento. Mas meu avô, que pintava bem, levava-me aos museus – o Histórico da Praça XV, o Museu Histórico Nacional e o de Belas Artes. Ele era o mestre e incentivador, que me nutria com a arte dos grandes clássicos para enfrentar uma carreira mais tarde, que eu não imaginava tão complexa, mas aqueles anos de inspiração foram únicos. Minha formação foi uma mistura de design gráfico baseado em teorias; ilustração editorial e publicitária, especializando-me na ilustração autoral de temas de época mais tarde. Depois, veio a pintura histórica como extensão da minha ilustração. No ambiente publicitário do meu início de carreira, engoli um conceito forjado para as mentes jovens de que “somente as ideias seriam fundamentais para o sucesso de um artista”. A escola clássica para os criativos anões da publicidade não era mais do que coisa do século dezenove. A peça foi pregada. As lições da velha escola eram limitadas ou inexistentes. Foi aí que, em meio a uma trajetória sofrida, descobri os velhos mestres e meus objetivos mudaram. Passei a valorizar muito mais o domínio da técnica do que das ideias, que vão e vem na onda da moda. Hoje, as escolas de arte clássica se espalham vertiginosamente pela América e Europa, mantendo um currículo rigoroso de desenho e pintura com base nos métodos usados ​​há centenas de anos, enquanto os cursos de arte contemporânea mal ensinam os fundamentos da Old-school. Assim, veio a resposta fatal aos cultores desqualificados da falta de técnica, que começam a perder o controle do cenário artístico. O que fica difícil entender é porque alguém se deixa iludir e anula a possibilidade de dominar a grande arte, com seus predicados tradicionalistas, em nome de esnobismos inférteis. Quanto a mim, busco a honra de voltar para um cantinho do estúdio da velha escola.

"Rue de Bourgogne" - OST - 33x41 - 1992



ronaldoantunescomunicacao.com.br 


    

domingo, 4 de julho de 2021

 

HENRIQUE VIII E ELIZABETH BLOUNT


    Henry VIII, como achou pouco as seis mulheres oficiais que teve, ainda se envolveu em múltiplas aventuras escandalosas. Uma delas foi com Elizabeth Blount, a "Bessie", que deu a Henry o único filho bastardo aceito por ele. Mãe e filho morreram tuberculosos tempos depois. Mas o libertino rei ainda colocou a "Bessie" como dama de companhia da sua quarta esposa, Ana de Cleves, deslizando sempre em seus vieses devassos... O rei proibiu que "Bessie" fosse retratada, ficando apenas em texto as descrições sobre o seu rosto.

quarta-feira, 15 de março de 2017

MESTRE IVAN


    No início da minha trajetória como ilustrador, década de 70, ainda cursando a Escola Nacional de Belas Artes e trabalhando em uma grande agência de publicidade, conheci um mestre do desenho – Ivan Wasth Rodrigues –, que me apontou o caminho da Old-school. Tornei-me seu aluno, mas só me dei conta da grandiosidade do mestre depois de anos de convívio, talvez por estar nessa época com a visão voltada para o mundo da publicidade e seus brilhos passageiros. Era o momento do Push Pin Studios, dos gigantes do design gráfico como Milton Glaser, Seymour Chwast, John Alcorn e dezenas de outros ilustradores famosos. Mas, nessa agência onde conheci Ivan, meu objetivo estético começou a tomar forma: surgiu em mim o interesse pela especialização em temas históricos, além de cultivar os gêneros tradicionais da pintura. Pintor ou ilustrador, não me importava muito com esses rótulos, uma vez que meu propósito na arte se cristalizava. Enfim, "La pittura è cosa mentale", já dizia Da Vinci...

JULIO II ORDENA A RECONSTRUÇÃO DA BASÍLICA DE SÃO PEDRO 
A BRAMANTE, MICHELANGELO E RAFFAELLO - OST 22X27.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

O GOSTO DE AVENTURA

    De volta aos meus arquivos, achei uma ilustração que fiz em 1984. Era uma época em que eu cultivava o guache e a aquarela. A cada dia, buscava aprender mais e mais sobre essas técnicas. Entretanto, foi mesmo no guache que mais me realizei tecnicamente. "Bebia" os trabalhos dos ilustradores que mais se destacavam com as técnicas a base de água, a ponto de esquecer todo o resto. Para mim, gênios eram os que sabiam brincar com o guache, pois exige uma destreza fenomenal. Tudo tem que ser solucionado alla prima. A "puxada" do pincel já resolve de forma direta todos os problemas de tons, cores, densidade da tinta, textura, etc... Sim, pois a secagem do guache é quase instantânea e requer verdadeiro skill na sua manipulação. Para esta ilustração, utilizei o ecoline, que é uma tinta da família da aquarela, apenas um pouco mais transparente e luminosa.
    Neste trabalho, tentei infundir, conforme a solicitação do diretor de arte da editora, um clima de incerteza reservado à figura que espera pelo trem na estação. E ao leitor o inadiável gosto de aventura...


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A IDEIA PLANTADA

Croquis, ébauche, bosquejo, doodle, sketch, rough, esboço e mais... É o início. A ideia plantada em um pedaço de papel. Até um guardanapo pode se tornar uma obra prima. Basta um lápis e acreditar que o desenho é a fonte da grande pintura. O esboço pode ser uma obra em si mesma; um estudo da forma sem que haja compromisso com nada, ou pode ser um projeto para uma obra mais séria. O fato é que sem ele não há evolução no processo artístico. O esboço não tem o selo da obra final, mas sai da veia, pula sem medo. Importa que exista, não como seja, pois está acima das regras - pode ser tudo ao mesmo tempo, ou não ser nada.
A câmera   muito pouco em comparação com o cérebro e o olho humano bem treinado. A câmera é um objeto perigoso, pois foi ela que vulgarizou o trabalho do ilustrador, legando aos detratores a acusação de banalidade estética, por permitir a reprodução exata da natureza e com as distorções da forma promovidas pela lente. Mas o erro é do ilustrador e não da câmera. Por isso confio na forma que vejo na minha mente, que é imperfeita, mas individual. Improvisar é um ato da imaginação e, indiscutivelmente, será sempre preferível ao caminho fácil e vicioso da cópia sem interpretação.
Estas garatujas que seguem foram produzidas na época de aprendizado básico, nos anos 70, 80 e 90.