quinta-feira, 5 de março de 2015

A CONCLUSÃO INEVITÁVEL

Continuando com a temática da postagem anterior, sobre as minhas experiências surrealistas no início dos anos 90, tentei variações de abordagem técnica ao realizar quadros surrealistas (no processo clássico) e, também, quadros realistas tradicionais. 
Na visão surrealista, o que determina o resultado final é a preocupação com a ideia, conduzindo o pintor fatalmente ao descuido com os detalhes que compõem a elaboração de uma obra de arte clássica. Na abordagem clássica, é prazerosa a tarefa de entonar o crepúsculo, o sol de meio-dia, a escuridão da noite, as sombras esmaecidas de uma tarde de inverno, enfim, o domínio dos fundamentos da arte tradicionalista. O deslizar maestro do pincel para se conseguir um tom nacarado da pele humana sob uma determinada iluminação, etc. É o autêntico prazer de pintar. O fundamento maior da pintura: a importância está na execução e não no tema. Importa é como se pinta e não o que se pinta... 
É na arte clássica que encontramos a preocupação com a beleza dos tons e das cores que a natureza harmoniza. Logo se percebe a síntese do traço; a textura; a composição; a perspectiva; o tratamento dos tons, etc. É com os pincéis que o artista deve dizer as coisas e não com discursos paranoicos e trucagens baratas dos artistas embromadores... Disse Pietro Annigoni: “Estou convicto de que a obra da vanguarda de hoje é o fruto envenenado de uma degradação espiritual com a consequência da trágica perda do amor pela vida”. 
A filosofia estética do surrealismo cria uma irrefutável obrigação de que o pintor se mantenha refém do absurdo, de interpretações espirituais ridículas ou idiossincrasias grotescas como bem nos legou Dalí. Entretanto, percebi que não tem que ser assim, pois o que falta, a meu ver, simplesmente é skill, craft... Picasso, além de ter exibido muito mais talento do que Dalí, demonstrou inteligência ao imprimir um selo de maior seriedade no seu trabalho. Não se descuidou em entrar no circo anacrônico que Dalí montou. Picasso soube se perpetuar, pulando de fase em fase... 
A abordagem técnica surreal obriga o artista a obedecer cada vez mais aos detalhes minuciosos da cena que aborda, sob pena de tornar a representação ainda mais confusa, pois a interpretação surrealista já é confusa por natureza, sem sentido, apelativa. Ora, sem o detalhismo surrealista, como a ideia há de se mostrar inteligível? Um exemplo do que quero dizer, com approach mais clássico, está no trabalho de Magritte, David Michael Bowers, e do próprio Dalí. Para tornar a “mensagem clara”, somente através do tratamento fotográfico. Esse é o grande problema: a causa do estilo duro, que é próprio da execução do pintor surrealista. Qual a preocupação de um impressionista? A interpretação da luz, é óbvio. Qual a prioridade de um pintor surrealista sem formação no desenho? Embromar o público através de conteúdos doentios, usando uma cortina de fumaça para simular processos clássicos, com o objetivo de impressionar o ingênuo com suas extravagâncias. Uma forma de distrair a massa de manobra, que também gosta das baboseiras mal-feitas e cheias de palavras de significado limitado... 
Ainda existe o surrealismo que não sai do confuso, típico daqueles que não sabem desenhar nada, como Yves Tanguy, Miró, Max Ernst, Hans Arp e muitos outros... Há também o surrealismo “estilizado”, com figuras mais próximas de bonecos, como a pintura de ilustradores, ex-publicitários, que não tiveram formação clássica no desenho e se tornaram amostras de anões estéticos, posando de herméticos para impressionar. Geralmente, carregam uma grande bagagem de discursos religiosos, trabalhados ao gosto do público que iludem. Alguns, quando não lançam mão de filosofias orientais, até usam a Bíblia misturada com arte... Exemplo disso, são os pintores que apelam para misturas plásticas de Francis Bacon com Marc Chagall; William Blake com Ismael Nery; Odilon Redon com ilustradores modernos, etc. Visionários, que pensam ouvir a voz de Deus para infundir uma missão nas suas pinturas doidas. Esses loucos ainda acham que Deus fica contente quando eles pintam... Um tal desses, velho conhecido, numa das crises espirituais, acusou-me de não ser artista por não estar à altura de decodificar suas mensagens surreais de psicopata religioso... Como esse existem muitos, escondem até o passado de ilustradores, pois se consideram gênios e gênios não fazem ilustração... Estão bem acima de nós. Quanto a mim, orgulho-me em ser um ilustrador da escola tradicionalista, porque, pelo menos, a ilustração não foi atingida pelo veneno que tomou conta da “pintura” do século vinte. Os ilustradores não foram impedidos de estudar o desenho clássico e evoluir nos caminhos da tradição que vem desde a Renascença... 
Para mim, pouco importa se me classificam de ilustrador ou pintor. Meu trabalho é um só, com unidade de estilo e variedade de técnicas. Se exponho numa galeria, ilustro um livro clássico, ou pinto um mural, significa a mesma coisa, desde que seja no meu estilo figurativo. Se hoje acusam um pintor histórico de “ilustrador”, com intenções pejorativas, é porque esses detratores, por não alcançarem as uvas, dizem que elas estão verdes... Se o título de pintor histórico é rejeitado pela crítica ignara, então posso chamar meu estilo de realismo imaginativo... Só não quero ser confundido com pintores modernistas intuitivos. 
É muito séria a questão da abordagem técnica na pintura. Como conciliar, por exemplo, um interior com iluminação difusa, o intrincado jogo de luzes indiretas e sombras imperceptíveis ao primeiro olhar com o tratamento surrealista que apenas se prende à “ideia” em si? Ou o pintor se preocupa com os princípios da observação realista, ou com a abordagem conceitual surrealista, nesse caso, simulando apenas um realismo tosco, ou seja, um pastiche do real para parecer clássico. Os caminhos se opõem. Estilo duro e detalhismo, ou a soltura de execução que conduz ao belo, ao verdadeiro. 
O modernismo é uma fraude cativante pelo simples fato de entupir a cabeça das pessoas com teorias confusas, mas que mexem com o ego e a vaidade do público, anestesiando-o e impedindo-o de se pronunciar – sob pena de execração da “cultura das elites”. Da excomunhão intelectual. E, assim, os admiradores da verdadeira arte engoliram embromação por todo o século vinte. Brindaram a lama da ritualização do sem sentido, sem entender que estavam contribuindo para destruir a expressão mais elevada do ser humano. 
Jacob Collins, um grande pintor clássico americano, jovem e em plena atividade, declarou recentemente à revista “American Artist” o seu desprezo pelo modernismo. Disse que sua avó, pintora moderna, aluna de Hans Hofmann, tentou induzi-lo a arte dos modernistas quando criança, ao que ele reagiu, dedicando-se, a partir dos dezesseis anos, ao estudo dos velhos mestres clássicos até os dias de hoje. O que me impressionou de fato, foi a sua contundente declaração: “-A perversidade do modernismo está em encher a cabeça do artista com o conceito nocivo de que tudo o que ele pinta é bom e aceitável. Isto faz com que ele estacione e se torne preguiçoso, aceitando qualquer coisa que aconteça sobre uma tela. O objetivo venenoso da pintura passa a ser a “necessidade de auto expressão” e não a verdadeira finalidade, que é comunicar algo mais universal ao expectador...”. Esta é a grande peçonha destilada pelo surrealismo e demais correntes estéticas do nosso tempo. Atualmente, Jacob Collins mantém uma importante escola de arte, “The Water Street Atelier”, em New York, tornando-se famoso com o seu trabalho clássico. Aliás, diga-se de passagem, toda a pintura americana atual tomou os rumos do tradicionalismo.
Assim como citei Jacob Collins, gostaria de mencionar, entre outras centenas de academias de fine art pelo mundo afora, apenas mais uma, o Beaux-Arts Atelier de Nova York, apenas para que o leitor possa visualizar a seriedade do ambiente em que a arte clássica voltou a se robustecer em todo o mundo. Não são paraquedistas, brincalhões, palhaços ou amadores. São profissionais de arte, exatamente como eram formados nas academias do século dezenove. Removeram do cenário a formação acadêmica certa, distorceram-na, para que pudessem retirar o rótulo de seriedade do artista profissional e, então, torná-los meros fantoches... Foi assim que fizeram da arte um discurso pseudofilosófico!







Fotos do Beaux-Arts Atelier


Lembro-me das palavras de um velho amigo artista, Roberto Barros. Advertiu-me sobre o perigo à espreita – a arte sem técnica: “Ronaldo: para cada quadro modernoso que você pintar, será um a menos no seu estilo sério... Temos que fazer concessões para ganhar dinheiro em tudo na vida, mas a pintura é a única maneira que você tem para ser autêntico e verdadeiro. Não podemos viver divididos, achando que somos capazes de desenvolver vários estilos, então, por que abandonar o seu estilo clássico para ser um falso moedeiro?”... Então, tomei uma decisão pragmática: transferi minha visão comercial para a atividade de designer e ilustrador. Sim, pois hoje o ilustrador se desvalorizou, uma vez que abriu mão da posição de artista autoral. Não existem mais ilustradores que se preocupem em preservar a individualidade de um estilo único como fazem os pintores. O computador matou os pincéis, pelo menos no Brasil... Com a ilustração, tornei-me mais comercial. A era de Ivan Rodrigues, dos fine illustrators, parece que foi esquecida. O design gráfico e a ilustração se transformaram num bordel informatizado... Mas, na pintura, fico perto da Old-school.
Susan Best, uma pintora realista de Buffalo, Texas, mandou um recado para os pintores modernos que a perseguiam e se gabavam das profundidades intelectuosas: “-Tenho oitenta anos e trabalhei toda a minha vida na arte com sucesso. Aprendi a suportar as críticas desde jovem por colocar em jogo um fator negligenciado pela maioria: o bom senso. Os compradores em potencial percebem logo se um quadro lhes interessa ou não. Nunca jogam dinheiro fora: ou adquirem a obra, ou desistem dela. Não precisam de ninguém para dizer-lhes se a compra lhes convém ou não. Simples, talvez, mas o bom senso funciona perfeitamente. Nós artistas temos orgulho do nosso trabalho e nunca fazemos menos do que o melhor ao nosso alcance. Nosso sucesso depende da satisfação com que realizamos esse trabalho, do prazer que proporcionamos aos outros e do número de viagens que fazemos ao banco... Então, aos tão famosos intelectuais da pintura, eu digo que nós não precisamos de vocês. Vão ladrar diante da lua!”... Por essas e outras é que detesto a profundidade dos modernos.
Ensinaram ao povo incauto que admirar paranoias modernas significa ser culto e ter sensibilidade acima do homem comum. E essa camada social acreditou na idiotice pregada, como se fosse um selo de superioridade intelectual, de bom gosto, élégance, algo a mais... Quanta imbecilidade! Garanto que no mundo inteiro existem bilhões de pessoas a mais que assumem o seu bom gosto ao admirar as obras clássicas dos grandes mestres, do que daqueles que fingem pasmar diante de imbecilidades transitórias, para cultivar sensações de superioridade dos seus rivais intelectuais... Diletantes da moda e das frivolidades.
Não me preocupo com o novo e sim com o que é bom. Prefiro fazer um simples esboço a lápis no meu estilo do que abraçar encomendas modernas, gigantescas, que levam à ruína, cheias de promessas dos estetas-políticos que seduzem os artistas novatos e ingênuos, conduzindo-os à morte na sua própria arte. Pobre do artista que aceita os restos dos abutres. Críticos sérios jamais se comportam como amadores, que induzem o público a comprar historinhas surreais para colocar dinheiro no bolso jogar o povo na rede da mediocridade. A crítica séria zela pela história da arte e preserva seus valores eternos.
Não me conformo com os imbecis que pasmam e os hipócritas que fingem pasmar diante de tantas bobagens e falcatruas que representam a tão falada arte moderna. Numa época em que o pós-moderno já entra em falência, como falar em moderno?  A partir do final do século dezenove, o circo foi montado. Criaram o culto ao individualismo. Ah... O individualismo... Basta pintar umas bolas um pouco diferentes e a peça está pregada: um novo gênio que surge. Principalmente se expressar algum frisson daliniano...
A permissividade encontrou campos sem fim. E quem não quer tentar fazer alguma coisa para ver se encontra um pouquinho de sorte com a mídia? Não se precisa mais de escola, nem de ofício, nem de dedicação espartana diante de um cavalete. É só encontrar um padrinho do mecenato, um tio rico, talvez, e um crítico enrolador para escrever um monturo de porcarias para consolidar o novo talento. Ah, e altas doses de política suja para sustentar a fraude intelectual elaborada pela velhacaria crítica.
Os quadros realistas a seguir, foram os primeiros que pintei concomitantemente às experiências surrealistas na década de 90. Por isso, guardarei sempre os valores da Old-school, onde o artista tradicional era respeitado e não vestia a roupa de palhaço oferecida por uma sociedade que fabrica, molda e descarta os seus artistas que insere na moda. Depois os sepulta. Não faço parte de um mercado torpe e transitório. Quem tem que mandar no mercado é o artista, mas se ele tem medo e altas doses de burrice... Então, que pague pela sua megalomania cega. Garanto que os críticos sérios entenderam muito bem o meu texto. 
Não é minha intenção despejar raios sobre os principiantes deslumbrados com cores e traços aleatórios sobre uma tela, sempre acompanhados de discursos que pretendem fazer mágica, criando obras de arte com discursos enfeitados... Obras de arte, modernas ou não, se fazem com conhecimento de shapes, teoria de cores, estudo profundo da figura humana, perspectiva, tons e tudo aquilo que já conhecemos desde a Renascença. Fora isso, é adivinhação, com um ou outro caso que pode dar algum resultado aleatório. Uma cor que fique chamativa, harmoniosa ou um traço qualquer que possa impressionar o despreparado esteticamente. Como compor uma sinfonia de verdade sem estudar música dia e noite? Sabem por que sou tão contundente nos meus textos de arte? É só pesquisar na Internet e constatar que o clássico voltou nos quatro cantos da terra...














segunda-feira, 2 de março de 2015

VELHAS GAVETAS

De volta aos meus arquivos empoeirados, descobri alguns trabalhos que foram motivo de grande reflexão na minha produção pictórica dos anos 90. 
Equivocadamente, muito se discute o que é pintura e o que é ilustração nos dias de hoje. Em linhas básicas, ilustração seria tudo aquilo atrelado a um tema, ao conteúdo narrativo, àquilo que pode ser contado como história. Pintura, como dizem os estetas é tudo o que contém uma plasticidade própria, com a prioridade absoluta na forma, nas cores e tons per si, sem nenhum compromisso com o fator narrativo. Ora, isto é um conceito que se estende como uma fina camada de verniz, algo bem superficial. Assim, o que dizer dos mestres da pintura histórica? Grandes artistas do século dezenove, que se dedicaram aos temas de época, os pintores pompier, foram venerados por toda a sociedade europeia daquele tempo. Diga-se de passagem, os rumos da ilustração profissional nem estavam traçados ainda, portanto, o que esses mestres faziam era ilustração? Quanta besteira... O gênero pintura histórica foi o mais respeitado e valorizado em todas as épocas.
Essa bobagem, postulada no século vinte, foi o meio encontrado pelos modernistas para destruir os pilares da grande arte e da herança renascentista. Quanto a mim, ainda estudante de arte, deixei-me influenciar com a empulhação imposta pela crítica, pois os cultores do caminho fácil rotulam tudo de ilustração. E se for ilustração? O que requer do artista mais talento, skill e percepção – um quadro de Kandinsky ou uma ilustração de Harold Foster? Bem, com todo respeito a Kandinsky, meu abstracionista preferido, em relação aos borradores de telas de hoje, depois que termino meus quadros figurativos, faço belos abstratos com os restos de tinta que sobram na própria paleta... Depois, limpo tudo com querozene.
Como tanto falei, venho de uma formação artística na Old school, mas, devido aos caminhos profissionais que percorri nas agências de publicidade, recebi influência direta dos designers e ilustradores americanos da década de 70, em especial, o Push Pin Studios. Ora, esses ilustradores eram descendentes diretos dos pintores dadaístas e surrealistas europeus. Magritte, Klee, de Chirico e outros. Não havia como refutar coisas tão fantásticas dos anos dourados. Vi-me, então, em conflito, pois detestava o surrealismo barato e apelativo, mas amava a projeção de ideias inteligentes através da visão dos ilustradores modernos - era uma recontextualização do surrealismo.
Além dessa experiência de nuance estilística, reforçada através de publicações geniais como Graphis; Modern Publicity; Idea; Illustrator’s; Communication arts e outras conheci Oscar Palacios, que muito me incentivava com as experiências oníricas na pintura. Embora não me identificasse com o mundo daliniano, voltei-me, então, para algo que imaginava ter mais conteúdo. Busquei uma vertente acadêmica em que pudesse prosseguir com o exercício do desenho clássico e das cores da natureza. Algo clássico na forma e moderno no tema.
Então, mesmo ao atravessar o deserto das dúvidas estéticas, continuei com a contumácia e prossegui nas pesquisas em busca de um realismo neometafísico. No início dos anos 90, interessei-me por Martin Heiddeger – leituras e releituras que fiz do Ser e tempo, embora repudie a sua vida, o envolvimento com o nazismo e a covardia que praticou com Hannah Arendt. Mas, pelo filósofo que foi, a sociedade esqueceu o lado humano sinistro de Heiddeger. Adiante, estudei O ser-tempo, de André Comte-Sponville. Ainda, na época, com os meus questionamentos da temporalidade, as divagações sobre a morte e o sofrimento humano, decidi traduzir essas convulsões do espírito através de pinceladas. Assim, insisti nas experiências pictóricas em busca de um conteúdo ontológico, exteriorizando a visão caótica e metafísica do mundo através da pintura.
Estes quatro trabalhos, dos anos 90, demonstram  minha intenção em ficar distante das banalidades dalinianas e o objetivo de recontextualizar o surrealismo. Com mais conhecimento de desenho, expressão metafísica, mais individualizado, com carga simbólica evidente e vinculado aos parâmetros clássicos.

Na próxima postagem, faço a conclusão.

"Em busca do tempo perdido I" - OST - 1995

"Em busca do tempo perdido II" - OST - 1995

"Em busca do tempo perdido III" - OST - 1995
"Em busca do tempo perdido IV" - OST - 2009




segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

SOBRE AQUARELA

    A tese que sustento pode escandalizar alguns: John Gannam, mestre ilustrador da Golden age especializou-se em aquarela e - pasmem -, nesse gênero não ficou devendo nada a John Singer Sargent... É isso mesmo. Para o aquarelista, o desenho é a chave de tudo e Gannam ostentava a "facilidade" que só encontramos em Sargent, Tiepolo, Van Dyck e Velázquez. Entretanto, as pessoas não conseguem identificar a grandiosidade de um artista olhando a sua obra, mas ficam à mercê dos textos, dos nomes famosos. Mas o processo é tão simples, que chega a ser um tanto estúpido - é só confiar nos olhos! Acredite no que vê, não no que dizem. 
  Falo aqui sobre fluidez dos meios aquosos - skill, craft, draftsmanship com extremo abuso dos termos em si. É a essa facilidade que me refiro. Não adianta querer buscá-la a vida toda, ela vem ou não. Veja-se o caso de Antonio Salieri e Mozart... Pior que certas coisas têm preço. Mozart foi enterrado como indigente, enquanto Salieri esnobou na côrte. 
    Mister Gannam, era o jeito que o chamavam, teve como seu grande incentivador Frederick Remington, o maior pintor do Oeste americano. Antes do surgimento da era do guache na ilustração americana, a aquarela ainda se mantinha como técnica preferida dos grandes mestres. É no mínimo curioso como as pessoas têm medo da excomunhão intelectual por aqueles que ditam princípios tolos. No passado, a Igreja encomedava arte a Michelangelo, Rafaello e a dezenas de outros mestres. A realeza também encomendava arte a Rubens, Velázquez e a dezenas de outros gênios. Agora, se nos tempos modernos uma editora encomenda arte a John Gannam, talvez seja porque ele não passa de um simples ilustrador... Por acaso, o traço, os tons e as cores desse grande aquarelista não se nivelam às obras dos mestres do passado? Eles também não adotaram um tipo de make a living com aquilo que sabiam fazer melhor? Será que os críticos hipócritas, antes de acusar Gannam, pagariam as suas contas? 


  














John Gannam e suas xícaras de café...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

E O NETINHO CHEGOU...

Este é o Matheus, que veio nos renovar!


Com a mamãe e o pai deixando a clínica...


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Antes de mais esta postagem, gostaria de homenagear meu filho mais velho, Daniel, que se tornou MASTER OF BUSINESS ADMINISTRATION esta semana... E meu outro filho, Sérgio Donatello, que vai me dar um neto em poucos dias!


LOVELL



Tom Lovell

      Hoje, mais uma vez, lembrei-me de Tom Lovell, um dos grandes mestres da época de ouro da ilustração americana. Não posso negar a influência que tive do seu trabalho, pois acho que só recebemos influência das coisas que admiramos de fato. No meu ponto de vista, ele ultrapassou a fronteira da ilustração comercial, tornando-se um fine-illustrator no sentido que a palavra expressa. Na verdade, um grande pintor.
    A paixão de Tom Lovell pela História e a devoção à pesquisa iconográfica acurada é refletida na sua arte, enriquecendo-a. Lovell nasceu em Nova York em fevereiro de 1909. Quando era menino, costumava visitar o Museu de História Natural com sua mãe, onde passava horas fazendo dezenas de esboços das relíquias expostas. Na medida em que crescia, procurava trabalhos relacionados aos seus objetivos artísticos, até que, finalmente, ingressou no College of Fine Art da Universidade de Syracuse. Enquanto se dedicava aos estudos básicos de arte, começou a trabalhar como ilustrador para as revistas populares da época. Então, em 1931, bacharelou-se em Fine Arts pela Syracuse University.





    Lovell considerava-se um sortudo por ganhar sete vezes mais por uma ilustração do que o autor do próprio texto publicado, numa época em que o país atravessava sérios problemas econômicos. Em 1937, suas ilustrações estavam presentes nas mais importantes revistas americanas: National Geographic, Life, Time, Cosmopolitan, Ladies Home Journal, Woman’s Home Companion, Colliers, McCall’s e outras, ilustrando as obras dos escritores mais renomados do planeta.




    Em 1944, Lovell alistou-se na Marinha americana como fuzileiro e artista combatente. Mas serviu por dois anos como staff artist, dando início de fato ao que sempre buscara: a pintura histórica. Como não conseguira, naqueles tempos, dedicar-se por completo ao seu objetivo, prosseguiu na produção de ilustrações de temática variada por quase quarenta anos, mantendo os temas de época um pouco à parte.





    Na década de setenta, entretanto, Lovell mudou-se com a família de Connecticut para Santa Fé, Novo México, e passou a se dedicar inteiramente ao seu primeiro amor artístico – o já mencionado gênero histórico –, mas com ênfase na especialização de cenas do Oeste americano. Assim, Tom Lovell se expressou sobre a sua arte: “Sempre estive interessado nos índios americanos desde os meus nove anos... Esse interesse jamais me abandonou, embora eu já utilizasse esses temas no meu trabalho anterior. Quando me mudei para o Oeste, todo meu interesse e conhecimento do assunto parecia estagnado. Mas, embora eu não tivesse interesse em assumir a identidade de um cowboy, percebi que o Oeste tinha muito mais coisas importantes do que ser um vaqueiro. Existem muitos artistas que conhecem a vida do Oeste atual a fundo e provam isso nos seus quadros. Mas, no meu caso, existe a preocupação de historiador, de voltar no tempo e isto é o que faço”.




    A imaginação de Lovell, sua habilidade de pesquisa, junto com o talento e domínio técnico, concorriam perfeitamente para a narrativa histórica. Os temas abordados por Lovell vão da Antiguidade aos dias de hoje. Ao longo da sua carreira, Lovell recebeu muitos louvores e condecorações. Ingressou na Society of Illustrators Hall of Fame; suas pinturas foram adquiridas pela Casa Branca; pela U.S. Maritime Academy; pelo New Britain Museum; pelo Marine Corps Headquarters; National Geographic Society; National Cowboy; Western Heritage Museum; Abel-Hanger Foundation; dezenas de galerias de arte e escritórios famosos, fazendo parte das coleções particulares mais importantes do mundo.





    Em 29 de junho de 1997, Lovell faleceu num acidente de carro, aos 88 anos. Certa vez, já perto do fim, disse: “Sou um homem de sorte. Pintei por mais de cinquenta anos e realizei meus sonhos”... Sua vida foi bem empregada, fazendo o que mais amava. Ilustrando o presente e o passado – a vida e a História para o deleite dos homens. Tom Lovell criou escola... E grande arte.



































Alguns esboços preliminares: