VELHAS GAVETAS
De volta aos
meus arquivos empoeirados, descobri alguns trabalhos que foram motivo de grande reflexão na minha produção pictórica dos anos 90.
Equivocadamente,
muito se discute o que é pintura e o que é ilustração nos dias de hoje. Em
linhas básicas, ilustração seria tudo aquilo atrelado a um tema, ao conteúdo
narrativo, àquilo que pode ser contado como história. Pintura, como dizem os
estetas é tudo o que contém uma plasticidade própria, com a prioridade absoluta
na forma, nas cores e tons per
si, sem nenhum compromisso com o fator narrativo. Ora, isto é um conceito
que se estende como uma fina camada de verniz, algo bem superficial. Assim, o
que dizer dos mestres da pintura histórica? Grandes artistas do século
dezenove, que se dedicaram aos temas de época, os pintores pompier, foram venerados por
toda a sociedade europeia daquele tempo. Diga-se de passagem, os rumos da
ilustração profissional nem estavam traçados ainda, portanto, o que esses
mestres faziam era ilustração? Quanta besteira... O gênero pintura histórica
foi o mais respeitado e valorizado em todas as épocas.
Essa bobagem, postulada no século vinte, foi o meio encontrado pelos modernistas para destruir os pilares da grande arte e da herança renascentista. Quanto a mim, ainda estudante de arte, deixei-me influenciar com a empulhação imposta pela crítica, pois os cultores do caminho fácil rotulam tudo de ilustração. E se for ilustração? O que requer do artista mais talento, skill e percepção – um quadro de Kandinsky ou uma ilustração de Harold Foster? Bem, com todo respeito a Kandinsky, meu abstracionista preferido, em relação aos borradores de telas de hoje, depois que termino meus quadros figurativos, faço belos abstratos com os restos de tinta que sobram na própria paleta... Depois, limpo tudo com querozene.
Essa bobagem, postulada no século vinte, foi o meio encontrado pelos modernistas para destruir os pilares da grande arte e da herança renascentista. Quanto a mim, ainda estudante de arte, deixei-me influenciar com a empulhação imposta pela crítica, pois os cultores do caminho fácil rotulam tudo de ilustração. E se for ilustração? O que requer do artista mais talento, skill e percepção – um quadro de Kandinsky ou uma ilustração de Harold Foster? Bem, com todo respeito a Kandinsky, meu abstracionista preferido, em relação aos borradores de telas de hoje, depois que termino meus quadros figurativos, faço belos abstratos com os restos de tinta que sobram na própria paleta... Depois, limpo tudo com querozene.
Como tanto
falei, venho de uma formação artística na Old
school, mas, devido aos
caminhos profissionais que percorri nas agências de publicidade, recebi
influência direta dos designers e ilustradores americanos da década de
70, em especial, o Push Pin
Studios. Ora, esses ilustradores eram descendentes diretos dos pintores
dadaístas e surrealistas europeus. Magritte, Klee, de Chirico e outros. Não
havia como refutar coisas tão fantásticas dos anos dourados. Vi-me, então, em
conflito, pois detestava o surrealismo barato e apelativo, mas amava a projeção
de ideias inteligentes através da visão dos ilustradores modernos - era uma
recontextualização do surrealismo.
Além dessa
experiência de nuance estilística, reforçada através de publicações geniais
como Graphis; Modern
Publicity; Idea; Illustrator’s; Communication
arts e outras conheci Oscar
Palacios, que muito me incentivava com as experiências oníricas na pintura.
Embora não me identificasse com o mundo daliniano, voltei-me, então, para algo que
imaginava ter mais conteúdo. Busquei uma vertente acadêmica em que pudesse
prosseguir com o exercício do desenho clássico e das cores da natureza. Algo
clássico na forma e moderno no tema.
Então, mesmo
ao atravessar o deserto das dúvidas estéticas, continuei com a contumácia e
prossegui nas pesquisas em busca de um realismo neometafísico. No início dos
anos 90, interessei-me por Martin Heiddeger – leituras e releituras que fiz do Ser e tempo, embora repudie a
sua vida, o envolvimento com o nazismo e a covardia que praticou com Hannah
Arendt. Mas, pelo filósofo que foi, a sociedade esqueceu o lado humano sinistro
de Heiddeger. Adiante, estudei O
ser-tempo, de André Comte-Sponville. Ainda, na época, com os meus
questionamentos da temporalidade, as divagações sobre a morte e o sofrimento
humano, decidi traduzir essas convulsões do espírito através de pinceladas. Assim, insisti nas experiências pictóricas em busca de um conteúdo ontológico, exteriorizando a
visão caótica e metafísica do mundo através da pintura.
Estes quatro
trabalhos, dos anos 90, demonstram minha intenção em ficar distante das
banalidades dalinianas e o objetivo de recontextualizar o
surrealismo. Com mais conhecimento de desenho, expressão metafísica, mais
individualizado, com carga simbólica evidente e vinculado aos parâmetros
clássicos.
Na próxima postagem,
faço a conclusão.
"Em busca do tempo perdido I" - OST - 1995
"Em busca do tempo perdido II" - OST - 1995
"Em busca do tempo perdido III" - OST - 1995
"Em busca do tempo perdido IV" - OST - 2009
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